QUANTO MAIS IDIOTA MELHOR: A “EDUCAÇÃO” DE FEDER X UM SONHO FINLANDÊS
Quem acompanha minha coluna desde
o início, para ser mais exato desde o artigo “NA PRÁTICA, A TEORIA É OUTRA”,
pode ter estranhado um pouco o título do presente texto. Não, não defenderei
aqui o estandarte da idiotice como alguns, mas farei algumas reflexões acerca
da mesma.
Não faz muito tempo, escrevi um
outro artigo chamado “NÃO SEJA BURRO(A)!...” que já apontava o agravamento da
burrice em nosso país e no mundo, entre vários exemplos citados, destaquei
principalmente o “revisionismo” e a “anticultura” dos adeptos do “governo”
atual de nosso país e as burrices diárias nas redes sociais. Batalho tanto como
professor quanto poeta/escritor contra a ignorância através de pequenas
atitudes cotidianas na cidade onde nasci e habito. Não faço isso por ser um
gênio ou me considerar um. Faço isso, muito provavelmente pelo fato de comungar
com a tal Pedagogia Libertadora de Paulo Freire, aquela que considera a
“bagagem” sociocultural do aluno e que deseja que o mesmo se liberte da
alienação através do conhecimento e, sobretudo, do autoconhecimento, de modo
que possa atuar como um agente crítico e transformador de sua própria vida e
quiçá do mundo. É nesta toada que procuro mudar ou pelo menos tento melhorar o
(meu) mundo, um aluno de cada vez, um leitor de cada vez.
Mesmo assim, tem dias em que
sinto que meu esforço é em vão e penso como Nelson Rodrigues: “Os idiotas vão
tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são
muitos.”. E como são, meu Deus. É uma batalha muito injusta. Mas ainda assim
ansiamos pelo dia em que “Vai subir o nível mental” como desejava Raul Seixas
na música “Dentadura Postiça”.
A idiotice não vem de hoje, pois
há muito se “celebra” a estupidez humana (vide a música, mais que perfeita,
“Perfeição” da banda Legião Urbana). Idiotes, no grego, tinha o sentido de
“homem privado”, ou seja, de alguém alienado em relação à gestão da coisa
pública, alguém que se preocupava apenas com sua própria vida – como se sua
vida não dependesse em certa parte da gestão da coisa pública. Na época, este
termo na sociedade grega remetia a alguém sem instrução, uma vez que só
participava da vida pública quem tivesse algumas “luzes”. Daí vem,
possivelmente, a palavra “aluno” (“a” = sem / “luno” = luz) que necessita em
parte do professor para adquirir a “luz” do conhecimento.
Esta condição de “homem privado”
do grego, de leigo em questões do Estado, definia certa inferioridade social.
Deste modo, mais adiante, idiotes virou idiota no latim e já carregava o
sentido de “pessoa simples, sem instrução, iletrada” ou de “pateta, parvo,
tolo”. A partir disso, idiota se espalhou pelo mundo, pelas mais diversas nações
e se agravou ainda mais no século XIX, quando a psiquiatria da época
transformaria idiotia em sinônimo de “retardo mental grave”, mais ou menos como
na sociedade distópica (e quase atual) representada no filme Idiocracia (2005)
que nos perturba diante da previsão de um mundo totalmente burro em 2505.
Aliás, nem Mike Judge nem Etan
Cohen (roteiristas do filme “Idiocracia”), nem eu no meu artigo de janeiro “20
EM 2020”, nem o maior gênio ou o maior olavista, enfim, ninguém imaginaria que
estaríamos em quarentena atualmente, passando por uma pandemia de Coronavírus
que, por sua vez, tem “varrido” nações.
O curioso é que o mundo todo
parece estar unido contra esta doença, apesar das desigualdades que diferem um
país do outro. A OMS (Organização Mundial de Saúde), as maiores mentes da
ciência e da medicina recomendando o isolamento social para tentar conter este
vírus e eis que surgem idiotas recomendando o contrário, sim, eles são muitos.
Nesta lista podemos incluir
pessoas em geral que pensam que estão de férias, o presidente da Bielorrússia,
Alexander Lukashenko, que recomenda tratamento através de contato social
(trabalho), sauna e vodka e o presidente brasileiro Jair Bolsonaro que só visa
à economia, uma vez que foi eleito através do apoio maciço da elite financeira
e fake news.
Bolsonaro, conhecido como
PIB-Zero (alusão ao Sub-Zero, do Mortal Kombat), sabe que se a economia cair,
seu governo ruirá, pois depende dos empresários para se manter no poder. Da
mesma forma que ao propor o isolamento vertical coloca em risco à população
idosa, justamente o seu calo previdenciário. Sempre oportunista, ele quer se
aproveitar da situação para matar dois coelhos (estamos em guerra e em Páscoa)
com uma cajadada só.
Complicado mesmo nesta época é
pedir isolamento social, apesar de necessário, a quem sempre foi isolado
socialmente. Como pedir para se isolar quem (con)vive com a uma família
volumosa em um peça na favela? Como pedir isso para quem está no fundo do POÇO,
como retrata o filme homônimo da Netflix? Para quem não tem o que comer, para
quem não tem saneamento básico? Álcool em gel? Isso seria uma triste ironia...
E é com esta mesma ironia que
Renato Feder, Secretário da Educação no Estado do Paraná, disse que quer dar o
“protagonismo” aos professores para resolver um problema que é dele... Sem um
planejamento prévio, sem uma discussão profunda sobre o assunto, o Secretário
quer que os professores neste período de quarentena promovam aulas em EAD
(Educação à Distância) ou acompanhem aulas promovidas por outros professores e
que se inteirem a respeito de dois aplicativos distintos que ninguém sabe para
que servem, que vivem travando e que sempre pedem para trocar de senha. Apesar
de Feder ser do meio tecnológico, o fato é que não houve Capacitação para
professores(as), pedadogas(os) e diretores(as). Neste período, todos estão em
Lost na Educação.
Pode ser que alguns alunos(as)
tentem acompanhar heroicamente estas aulas, mas como garantir que todos(as)
acompanhem? Quem está no chão da escola, sabe que em diversos lares não têm
internet, sequer tem uma televisão. O Secretário afirma que, para estes(as), as
escolas imprimirão apostilas/atividades a cada quinze dias... Com que dinheiro?
Com que verba? Com que funcionários se as escolas estão todas vazias?
A Educação não é para amadores...
O Brasil também não. Cada vez mais parece que o Governo Estadual do Paraná e o
Governo Federal querem perpetuar a idiotização das pessoas. Isso só fica bem na
ficção (vide o filme “Quanto mais idiota melhor” e “Quanto mais idiota melhor 2”),
não na realidade.
A meu ver, acredito que algumas
aulas EAD são válidas em Graduação e Pós-Graduação, uma vez que quem se
candidata a tal já tem os meios necessários para o acesso. Aqui estamos falando
de base. Se não garantirmos que todos discentes da rede pública tenham acesso a
este ensino, então estaremos promovendo a exclusão dos mesmos – o isolamento
social que devemos evitar a todo custo. Portanto, o mais oportuno seria esperar
acabar a quarentena para repensar um novo calendário para este ano letivo, uma
vez que a quarentena em si já gera uma pressão psicológica terrível em todos.
Basta olharmos a Finlândia, o
país número um do mundo em Educação. Lá o mais importante é a felicidade, o
bem-estar de alunos (a) e professores(as). Os professores(as) são muito bem
remunerados e muito bem capacitados, ao passo que os alunos têm a liberdade de
escolher o que querem aprender e quase nunca têm tarefa de casa, se tiverem,
estas não ultrapassam dez minutos. Lá se acredita que existe vida fora da
escola, portanto, não é necessário sobrecarregar docentes e discentes, eles
precisam viver, não sobreviver. Inclusive lá não existem escolas particulares.
A Educação lá não é mercadoria. Todas as escolas públicas são de qualidade e
seguem o mesmo modelo, não importa a localidade, para dar segurança ao
discente, caso ele precise se mudar. E o mais importante: filhos (as) de pobres
e ricos estudam na mesma escola pública, criando desta forma laços de empatia
desde cedo.
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