NA PRÁTICA, A TEORIA É OUTRA
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um
documento oficial criado pelo Ministério da Educação (MEC) que define de modo
uniforme o que todos os alunos do nosso país devem aprender durante sua escolaridade
(Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio).
No tocante à Língua Portuguesa, a BNCC sugere
que os componentes curriculares da mesma possam possibilitar o letramento em todas as áreas do conhecimento, de acordo com quatro eixos: leitura/escuta; produção
(escrita e multissemiótica); oralidade; análise linguística/semiótica (reflexão
sobre a língua, normas-padrão e sistema de escrita).
Percebemos, portanto, o quão relevante se faz
esta disciplina em nossa sociedade e o especial cuidado que devemos ter ao
tratarmos sobre a mesma, uma vez que ela “está para além dela”, sendo um
veículo através do qual os sujeitos se constituem, constroem identidades,
produzem conhecimento e agem de forma crítica no mundo.
Sobre o ponto de vista da
progressão, o documento em questão idealiza – romanticamente - a emancipação
intelectual do discente, tornando o mesmo capaz de viver com dignidade através
do exercício correto de sua cidadania, ao mesmo tempo em que poderá ser um
sujeito atuante na (re) construção de nossa sociedade, de sua vida pessoal e,
inclusive, acadêmica.
Em outras palavras, os conteúdos da Base Nacional Comum
Curricular devem atender às interações
que temos com o nosso universo social de nossa vida cotidiana através das
práticas: artístico-literárias; político-cidadãs; investigativas; culturais das
tecnologias de informação e comunicação; do mundo do trabalho.
Teoricamente, este ideal parece válido como um
ponto de partida para a discussão da Educação como um todo e do mundo que
queremos ter e deixar futuramente para as próximas gerações. Porém, ainda há
muito a ser feito, uma vez que o nosso país apresenta diversas discrepâncias sociais
e incoerências regionais.
Como pensar, por exemplo, no aprendizado dos alunos
como um todo, sabendo que em nosso país existem escolas que sequer tem merenda?
Ou ainda com regiões que sequer tem escola? Com algumas escolas sem estrutura
adequada para o ensino? Com alguns alunos que demonstram indisciplina acentuada
nas escolas por falta de estrutura familiar? Com boa parcela dos professores
desmotivados pela falta de reconhecimento (moral e financeiro) e sem condições
adequadas de trabalho? Com alguns pais que simplesmente desconhecem a vida
escolar de seus filhos? Com desvios de verbas que são destinadas exclusivamente
à Educação?
Há quem
pense que a proposta da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é interessante
sob a perspectiva de garantir conteúdos “básicos” para os alunos. Numa
perspectiva geral, levando em consideração todas as disciplinas, podemos
indagar: como saber se atingimos o “mínimo” necessário para cada aluno em salas
de aula superlotadas – com uma Educação engessada, que vê todos os alunos como
se fosse um mesmo elemento, em meio a uma infinidade de universos peculiares; em
que os alunos são obrigados a aprender na marra conteúdos que detestam para não
serem “castigados”/“punidos” ao final do ano letivo ou que alunos sejam
“empurrados” de ano, sem saber nada, apenas para melhorar as estatísticas do
IDEB de cada escola – ? Os questionamentos são inúmeros e não cessam.
A
Educação está perdida em meio ao caos de tantos contrastes. O modelo
educacional das escolas está totalmente defasado – independente de qualquer
BNCC que prometa milagres. Já passou da hora de termos uma mudança de
consciência concreta na Educação, que leve em consideração – de verdade – o
contexto social de cada comunidade, a bagagem de cada um e, principalmente, as
aptidões individuais que torna cada ser humano único e especial.
A partir disso, o processo ensino-aprendizagem pode ser mais prazeroso para discentes e docentes. Lembrando que Educação não se restringe só à Escola, a esfera dela é muito maior. Ela é antes de tudo – ou pelo menos deveria ser – a consciência de um povo. Povo este que é composto por inúmeras singularidades...
(Igor Veiga / PERIGOR)
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