SE LIGA! É TEMPO DE RESPEITAR OS PROFESSORES!
Parecia que janeiro não acabaria
nunca e agora chegamos ao momento tão esperado pelos pais e tão temido pelos
professores: volta às aulas. Alguns pais imaginam que escola é um depósito de
filhos e quase nunca acompanham a vida escolar dos mesmos, por isso quando se
deparam com seus “anjinhos” em casa, ficam com a sensação de que estão
coabitando com estranhos, ainda mais com o advento da tecnologia que a cada dia
que passa, aproxima pessoas distantes e distancia as que estão perto.
Não é à toa que, a nível de
Ensino Médio, o tema da redação do ENCCEJA – o jeitinho brasileiro mais fácil
de “completar” os estudos – no ano passado foi “A organização do tempo e o
acesso às redes sociais”. Muita gente simplesmente deixa de aproveitar a vida
em virtude do comodismo vegetativo das redes sociais, uma vez que o mundo
virtual é sem dúvida mais prazeroso e confortável do que a realidade.
Enquanto professor que sou – este
ano completo quinze anos como professor padrão do Estado do Paraná –, vejo a
dimensão infernal que isso ganha em sala de aula através do maldito celular.
Algum cretino otimista falará que devemos utilizar o celular a nosso favor.
Como? Se nas escolas muitas vezes não “pega” internet nem para preenchermos o
R.C.O. (Registro de Classe Online).
Noves fora, o grande desafio
docente é competir numa aula de cinquenta minutos com praticamente doze horas
de lixos midiáticos diários impregnados na mente dos discentes (isso se eles
dormirem oito horas por dia). Mas, de antemão, digo: não adianta fazer cara
feia, esbravejar ou querer se vingar em Conselho de Classe do “Joãozinho”. Não
acredito que uma mera reprovação recupere de modo efetivo alguém, sendo que
sequer exploramos de modo efetivo às potencialidades de cada indivíduo no
âmbito escolar. Primeiramente, devemos gostar de nossos alunos, por mais
impossível que isso possa parecer às vezes. Por experiência própria, sei que se
o educando sentir de fato que alguém se importa com ele, é mais fácil tê-lo
como aliado na batalha pedagógica diária. Talvez não funcione para algum caso
isolado, mas na maioria das vezes, o êxito é garantido.
Aliás, com todo respeito que
tenho pelos pedagogos, sempre achei uma babaquice o termo “controle” ou
“domínio” de turma. Devido à desvantagem numérica, imagino que seja muito mais
fácil quarenta alunos dominarem um professor do que um professor dominar
quarenta alunos. Outra coisa: por alguma razão o termo “controle de turma” me
lembra algo como “controle de pragas”. Não considero os alunos como pragas, mas
se algo precisa ser controlado, com certeza não é bom. Se precisamos dominar ou
controlar os alunos, já começamos mal. A escola é o lugar onde deveríamos
libertá-los, pois o saber liberta. Tudo que é imposto não é bom. O saber deve
ser prazeroso. O discente tem que sentir a necessidade, a utilidade do que está
aprendendo. Acredito também que, sempre que tivermos oportunidade, devemos
engajar o educando de outras formas além da aula habitual. Sei bem que cada
colégio é uma realidade distinta. Já teve colégio em que fui ministrar aula e
não tinha lousa ou mesmo sala de aula. Como pensar em visitas a eventos
culturais em comunidades extremamente carentes, por exemplo? Nas escolas de
Enzos e Valentinas isso deve ser comum. Portanto, cabe ao professor a missão quase
impossível de tentar oportunizar meios que garantam a superação de abismos
sociais e pedagógicos.
Não é fácil ser professor...
Ainda mais em tempos de anti-intelectualidade, negação da ciência e
analfabetismo funcional. Exemplos não
faltam de burrice... Um Olavo de Carvalho aqui, um Abraham Weintraub ali e
parece que estamos vivendo dentro do quadro “Subúrbios de uma Cidade Paranoica
Crítica” de Salvado Dalí, onde fica evidente que a cidade foi projetada para
nos enlouquecer – ou pelo menos tentar.
Da mesma forma, muitas vezes, a
própria escola parece uma fábrica de loucos. Os professores estão mais para
operários da Educação do que os detentores do saber. Passam geralmente o dia
todo na escola, sem qualidade de vida, mal se alimentam e quando se alimentam,
se alimentam mal – comem o que dá, quando dá. São mal cuidados. Se tiver
dúvida, é só olhar algum jornal sindical. Nem de longe se assemelham aos que
trabalham na Secretaria de Educação da Água Verde.
Se exige muito do professor, mas
mal temos tempo de preparar aulas e a cada ano vemos nossas horas-atividades se
esvaindo cada vez mais. Tempo para ler? Pouquíssimo, isso se tiver. Academia?
Alguns tentam ser fitness, mas após um dia de aulas, principalmente, após um
dia de aulas em turmas do Ensino Fundamental à tarde... Saímos nocauteados do
colégio. No mais, existem colégios e colégios... Alguns até se esforçam para
dar o apoio que o professor precisa, outros tentam derrubá-lo através de
combinações secretas entre os próprios colegas de trabalho. Como cobrar
consciência dos alunos, se ainda estamos a anos-luz da consciência de classe?
Séries televisivas e filmes
sempre retratam o professor como um inimigo a ser combatido. Já faz parte do
imaginário coletivo. Da mesma forma que a Rede Massa, cujo dono é pai do atual
governador do nosso Estado, sempre procura fazer quando tem greve dos
professores. Nunca expõe o real motivo que está por trás da mesma. Nunca expôs,
por exemplo, que o salário dos professores está com atraso de cerca de 20% de
reajuste acumulado dos últimos anos que, por sua vez, deve acompanhar o aumento
da inflação. Em outras palavras, é como se o nosso salário tivesse parado no
tempo enquanto o preço de tudo aumenta a cada ano. Neste sentido, perdemos
nosso poder de compra e passamos por diversas dificuldades financeiras, visto
que parte de nosso salário gastamos com nossos próprios alunos, uma vez que o
Estado deixa muito a desejar.
Neste ínterim, não pude deixar de
notar por estes dias que Renato Feder – aquele empresário milionário que foi colocado
pelo Ratinho Jr. como Secretário da Educação de nosso Estado – se autoproclamou
como Professor Renato Feder. Que piada! Renato Feder é formado em Administração
de Empresas e diz que já deu aula de Matemática em EJA. Não duvido que já tenha
dado aula, mas se o fez, foi por pouco tempo e apoiado em mero notório saber. A
realidade de EJA é bem distinta do Ensino Regular. Só quem está no chão de
escola no dia a dia sabe como é. A antipatia por Renato Feder é tão grande no
meio educacional que muitos professores criticaram o programa “Se liga! É tempo
de aprender mais!”, instituído pelo empresário ao findar do ano passado. Sem
qualquer paciência para diálogo, os professores sentiram como se tivessem
perdendo sua autonomia. Na época, não achei ruim a ideia do dito programa por
imaginar que oportunizar diferentes instrumentos de aprendizagem e avaliação
aos alunos já deve fazer parte da prática docente durante todo o ano letivo.
Porém, o que assusta mesmo são outras questões que me levam a acreditar que estão
tentando instituir o projeto Escola Sem Partido aos poucos, de maneira velada
nos colégios. Querem calar a nossa voz. De que modo?
Primeiramente, através da
presença para lá de indesejada de tutores/tutoras nos colégios que atuam como
“capitães do mato” em relação aos docentes. Sem conhecer a realidade do colégio
ou mesmo sem muitas vezes ter o mínimo de instrução em relação ao conteúdo
trabalhado, aparecem no colégio para fiscalizar professores de modo arbitrário.
Apenas isso já serviria para dizer que estão ferindo a autonomia da escola e a
liberdade de cátedra que é um princípio que assegura a liberdade de ensino.
Para sacramentar de vez a barbárie pedagógica e a falta de respeito aos
professores, entre 2020 e 2021 estão tentando inserir o CREP (Currículo da Rede
Estadual Paranaense) nas escolas, para desta forma, préordenar os conteúdos que
deverão ser trabalhados com o Ensino Fundamental.
É bom que se diga, não sou
favorável a palanques partidários em escolas, porém, o grande problema do
“projeto” Escola Sem Partido era e é justamente interferir no livre pensar, no
pensamento crítico, indo totalmente na contramão da Pedagogia Libertadora de
Paulo Freire.
A escola é o palco onde o
professor além de lecionar deve instigar no aluno a capacidade de reflexão e
autorreflexão. Percebe-se que estamos caminhando a passos largos para uma
geração de robôs alienados controlados pelo Estado – é mais fácil governar
quando o povo não aprende a pensar. Teremos em 2020 muita luta pela frente,
espero que consigamos sobreviver a este caos. Para finalizar, deixo um poema
sobre o atual problema...
MECanizado
Quem não lê é
arrombado
pela falta de
consciência.
Nunca imaginei ver
o MEC mecanizado
na contramão da
ciência...
Este vil mecanismo
somente faz sentido
para quem domina o
gado.
O governo deita e
rola
se quem vota é
alienado.
Por isso, por favor,
preste mais atenção
nas aulas e no seu
país...
Pois um povo sem
Educação
sempre será cativo e
infeliz,
sem ter a mínima
noção
de que tudo que o
prejudica
está bem debaixo do
nariz.
(Igor Veiga /
PERIGOR)
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